sexta-feira, 27 de março de 2009

Secretária da Cultura impõe condições para retomada das aulas da Escola Livre de Teatro



Por Tânia Jeferson

A secretária de Cultura de São José dos Pinhais, Elisete Farias, afirmou em entrevista ao Jornal Metrópole, que a Escola Livre de Teatro – que não teve suas aulas iniciadas no dia 9 de março, como programado, por determinação da Secretaria – pode retomar as aulas na segunda-feira (30) desde que apresente um professor graduado e um plano de aula. Segundo a secretária, a escola está parada porque ela não recebeu nenhum relatório informando número de alunos e plano de aulas.
Contestando a informação da secretária, Tadica Veiga, uma das coordenadoras do projeto ‘O Boneco e a Sociedade’, disse que todas as ações do projeto, inclusive da Escola Livre, estão relacionadas no contrato de prestação de serviço que tem com a Prefeitura e em relatórios, que segundo Tadica, não foram aceitos. “Nós mandamos um relatório super detalhado sobre as atividades da escola, mas ele não foi aceito. Até números oficiais do carnaval foram contestados pela Secretaria. E de que adianta iniciar as aulas na segunda-feira se o nosso contrato vence em maio e é claro que não querem a continuidade do projeto. Isso é enganar o povo”, afirmou Tadica.
Outro problema que a secretária aponta como impedimento da continuidade das aulas é a estrutura do prédio, onde existe uma rachadura. “Sem um público definido, número de alunos e espaço comprometido optou-se pelas aulas não terem início até que tivéssemos claras essas observações. E esses problemas estruturais não estão apenas na escola de teatro, o chão da ‘Escola de Dança Corpo São’ também está comprometido. Eu venho de um trabalho da educação e sei que essas ações precisam de segurança na estrutura e um programa bem claro”, disse.
A secretária disse que nos documentos de transição e nos relatórios de 2008 não há informações sobre a escola. “Eu não tenho nada. Não há nivelação por idade ou programa de ensino, por exemplo, e essa é uma prerrogativa que me pertence. Quem são os alunos? Quem são os professores? Quantas são as turmas? A Prefeitura deve ter o controle disso. Se eu chego aqui e todas os prestadores me dão relatórios das atividades, por que com a escola deve ser diferente?”, questionou.
Tadica rebate dizendo que a secretária nunca chamou os coordenadores para conversar. “Nunca houve o interesse da Secretaria em se inteirar totalmente do projeto. O relatório que enviamos não foi lido minuciosamente, já que tem algumas observações pedindo informações que estão no final de algumas frases”, falou.
“Sempre achei a ação da Companhia dos Ventos muito boa. Não há críticas sobre o que se fez, mas agora é preciso pontuar. As ações foram perdidas, o foco se perdeu, e queremos resgatar antigas ações como o Homem Palco e as Impanadas. O boneco gigante e o carnaval são outras ações. Mesmo que a Cia dos Ventos não permaneça prestando serviços à Prefeitura, São José dos Pinhais não perde os bonecos, isso já faz parte da cultura da cidade. Buscaremos outras vias para a continuidade dos trabalhos”, falou a secretária.
No edital que a Secretaria deve lançar para a licitação da nova escola de teatro, deve ser exigência a presença de um dramaturgo e quatro ou cinco professores graduados em artes cênicas, e informou que a Companhia dos Ventos poderá participar assim como as outras empresas.
Tadica Veiga afirma que a Cia não poderá concorrer a licitação porque o projeto ‘O Boneco e a Sociedade’, onde a escola está inserida, é único e pioneiro. “Eu não posso concorrer com o projeto e nem a secretaria pode usar o nosso projeto, já que estamos resguardados pela lei de direito autoral. Nós realizamos nossas criações a partir de um patrocínio. Nunca vi a Petrobrás patrocinar um espetáculo e depois ir lá buscar o cenário”, contestou a bonequeira.
“Não vendi o meu projeto para a Prefeitura, apenas o cedi sob contrato. Quando o contrato acaba, o projeto continua sendo meu. A Prefeitura tem todo direito de não querer mais, mas não tem o direito de sacrificar os artistas e a população neste trâmite. Para tudo há um ponto de convergência quando se quer resolver algo, mas para isso as pessoas devem conversar, dialogar, e tentar entender antes de condenar, e isso não feito até aqui”, disse Joelson Cruz, coordenador do projeto.

Orçamento
Elisete Farias disse que a secretaria tem um orçamento de R$ 3 milhões por ano. R$ 1,6 milhão está comprometido com a folha de pagamento. “Temos que dividir esta verba para contemplar vários outros projetos. Reduzimos os funcionários de 70 para 25 na Secretaria para enxugar custos”, argumentou.
“Até hoje, a Secretaria de Cultura abraçou muito a promoção social e a educação, e esta não é a nossa função. Não é nossa função fazer o contra turno da escola. Muitas mães perguntam: e agora, o que o meu filho vai fazer depois da aula? Podemos sim realizar esses trabalhos, mas não como obrigação. Tem outras coisas que estão paradas e que precisam da Secretaria, como a preservação do patrimônio histórico. O museu está descaracterizado em sua pintura original, o prédio que abriga a biblioteca também precisa de cuidados, os santos da Catedral precisam do apoio da Prefeitura em seu restauro e isso compete à secretaria e precisamos da verba para tudo isso”, falou a secretária.
“A nova gestão quer focar a arte popular, resgatar os festivais de música e dar espaço para os grupos étnicos, que precisam de espaço. Para isso temos que nos mobilizar em busca de recursos. As ações de arte educação são fundamentais, mas devem ser integradas. Hoje elas estão fragmentadas”, completou.
A secretária informou que foi solicitada à Procuradoria do Município a criação de um conselho de cultura. “Depois da aprovação dentro da legislação, haverá fóruns de discussão, para que aí surjam as indicações e assim a criação das políticas de cultura. Isso deve acontecer neste ano e no próximo”, contou.

Ponto de Cultura


Segundo a secretária, a documentação para a instalação do Ponto de Cultura no Museu do Boneco Animado está sendo encaminhada à Brasília, via correio, através da Secretaria de Planejamento. “Iremos capacitar servidores para que esses processos sejam encaminhados por aqui, mas enquanto isso, serão feitos como antes, pelo Planejamento”, afirmou.
Segundo informações da site da Prefeitura Municipal, sobre o projeto para captação de recursos para o Museu do Boneco Animado, a secretária afirma que “o município está inscrito para a captação deste recurso, ficando à espera da análise do projeto, que poderá ou não vir a ser contemplado, tendo em vista que é um recurso a ser solicitado por inúmeros projetos que concorrem no mesmo programa em todo o Brasil.” Mas de acordo com Clóris Costa, do Ministério da Cultura, a proposta já está aprovada, aguardando apenas a documentação.
Segundo Tadica, a documentação deve ser feita pela Secretaria de Cultura. “O Planejamento só faz o cadastramento no Sincov, não tem os formulários para preenchimento. A Secretaria de Cultura deve enviar os formulários preenchidos, além de toda a documentação do prefeito, e ata de posse, tudo com firma reconhecida. Pelo gabinete do prefeito não passou nada, com certeza. Só foi gerada a folha com o NR (número de registro do projeto no Ministério do Planejamento). Este número é que disponibiliza a verba que será solicitada pelo ministério da Cultura para depósito em conta. E de qualquer maneira a documentação tem que passar por mim, já que sou a responsável técnica artística do projeto, meu nome tem que ser homologado pelo prefeito, como já foi feito anteriormente, e isso não pode ser mudado. Agora é só uma adequação e reenvio de informações pela mudança de gestão”, afirmou Tadica.
Os pais dos alunos da Escola Livre de Teatro promovem hoje, às 14 horas, uma manifestação pacífica, saindo da Escola, em protesto. O objetivo da passeata é conseguir um horário para conversar com o prefeito e com a secretária sobre a permanência das aulas e do projeto.

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